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NEM DAMA E NEM TROVADOR

A mulher se coloca na posição de objeto da conquista. Apresenta-se como jóia rara ou como um vaso dos mais delicados. Isso não faz dela um ser inalcançável? Comporta-se ainda como quem concede um prêmio, e não como quem também é premiada. O homem deve estar sempre pronto para o que ela quiser. Inclusive adivinhar o seu desejo quando ela não o manifesta. Não há igualdade alguma.

Resumindo, a mulher se vê como o fiel da balança, enquanto o homem está sempre a postos para obter o seu prêmio. Navega ao sabor de conjunções astrais e eflúvios em permanente mudança. Isso por um lado é risível, por outro é de chorar.

 

 

O amor nasce no Ocidente com os trovadores, os poetas provençais, na forma do amor cortês, que nem tem como finalidade o prazer carnal e nem a reprodução. Trata-se de uma estética e de uma ascese.

Os poetas provençais, que escreviam os seus poemas para a dama – a esposa do senhor feudal –, foram influenciados pelos árabes, pelos emires, que se declaravam escravos das suas amantes. Adotando esse costume, os trovadores inverteram a relação tradicional entre os sexos, chamando a dama de “suserana” e se dizendo servidores dela. No código do amor cortês, elaborado por eles, a mulher ocupava a posição superior e o homem, a do vassalo. Foi uma mudança extraordinária nos costumes, uma subversão, como diz Octavio Paz em A dupla chama.

A mulher a que você se refere no seu e-mail se comporta como a dama, porém, hoje, a maioria das mulheres não se reconhece nesse comportamento. Mesmo porque já não há trovadores. Como você não se dispõe a sê-lo, espere, sem deixar de ficar atento. Mais dia, menos dia, você encontra a companheira igualitária que você deseja.

 

 O AMOR É SUBVERSIVO

 

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