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VÍCIO DE TRAVESTI

Gostaria de saber onde se encaixa um cara que sai com travestis, mas tem namorada e nunca quis sair com homem. Tem muitos iguais a mim por aí. Não nos encaixamos em grupo nenhum. Você acha que isso é desvio de comportamento? Às vezes eu me sinto culpado em relação à minha namorada, mas não consigo abandonar o vício de sair com travestis.

Você me pede um rótulo, quer saber onde eu o encaixo. Depois me pergunta se há no seu comportamento um desvio. Insiste no rótulo, ainda que seja de desviante. Faz isso para não ser banido da ordem moral. Por imaginar que ela te salva.

 

Você diz que não se encaixa em grupo nenhum, embora haja muitos outros que têm namorada e não resistem a um travesti. Entendo. Nenhum de nós é igual a quem quer que seja. E as generalizações sobre este ou aquele grupo servem mais para encobrir a verdade de cada sujeito do que para a revelar. Cada um é um. E, se você renunciar ao encaixe para se preocupar com a sua história, talvez passe para uma outra.

Você vive entre a obrigação moral de só transar com mulher e a compulsão de transar com travesti. Sexo só é bom quando escapa à obrigação, à compulsão e à incriminação. A revolução sexual dos anos 1970 nos levou a recusar a incriminação, porém, fez do sexo uma obrigação. O movimento nada pode contra a compulsão, contra o vício de transar de uma maneira que não é do agrado da própria pessoa. Ou seja, contra a dependência sexual, que pode ser tão dramática quanto a dependência da droga. Chega a matar. A cura analítica é um recurso para se livrar disso.

O homem não nasce livre, só que ele pode se tornar livre quando a sua meta é essa. Quando aceita pagar o preço da liberdade.

 

A DEPENDÊNCIA SEXUAL É TÃO DRAMÁTICA QUANTO A DEPENDÊNCIA DA DROGA

Publicado em Fale com ela

 

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