A ESCUTA HUMANIZA E PERMITE SUPERAR A INTOLERÂNCIA

Talvez porque seu trabalho estivesse fundado na escuta, Freud foi particularmente humano.

Quando ele escreveu Três ensaios sobre a sexualidade, em 1895, o termo perversão designava todas as formas de desvio sexual, ou seja, toda prática que não estivesse ligada à reprodução propriamente dita. Freud mostrou que as práticas ditas perversas servem de preliminares para os heterossexuais. Noutros termos, que a sexualidade humana não é redutível à procriação. Com isso, ele possibilitou uma tolerância maior, favorecendo a aceitação dos homossexuais.

nadinha

Sopro no coração (1971), de Louis Malle, é um filme profundamente intrigante. Laurent, nascido numa família da burguesia francesa, é educado num colégio religioso. Seu grande amor é sua mãe, uma jovem italiana alegre e desencantada com o casamento.

Laurent tem um sopro no coração e vai para um hospital acompanhado pela mãe. A relação se aprofunda a ponto de eles se entregarem fisicamente um ao outro numa cena tão inusitada quanto delicada. A mãe diz então para o filho que o ocorrido nunca se repetirá e deve ficar como um segredo entre eles. Por ser um artista, valendo-se da licença poética, Louis Malle pôde deixar o incesto acontecer para só daí mostrá-lo como um desvio a ser evitado.

“Freud através dos anos”, fotomontagem, Pinterest