A literatura é a prova de que a vida não basta

A frase é de Fernando Pessoa, que não teria vivido sem a literatura. Sem escrever, o poeta não poderia se transfigurar, ser Alberto Caeiro, que faz pouco de qualquer pensamento filosófico e prefere exaltar o guardador de rebanhos; ser Álvaro de Campos, o autor de “Não sou nada/ nunca serei nada…”, inteiramente desencantado – ou ainda ser Ricardo Reis, que sabe da morte e deseja aproveitar o presente.

 A transfiguração é tão vital quanto a própria vida, e é por isso que a literatura não deixará de existir.

nadinha

A frase de Shakespeare que nós mais citamos é a de Hamlet: To be or not to be, habitualmente traduzida por “ser ou não ser”. Mas existe, no Otelo, outra frase tão significativa quanto aquela: I am not who I am, que pode ser traduzida por “não sou quem pareço ser”. Quem diz isso é Iago, o personagem que engana Otelo e encarna o mal, mas também algo de que nenhum de nós prescinde: o faz de conta.

Quem escreveu as peças de Shakespeare afinal?

Comentários sobre "A literatura é a prova de que a vida não basta"
  1. Betty, seu blog é ainda uma das poucas coisas que se salvam neste país destruído. Sou seu leitor sempre e obrigado por me enviar sempre o que escreve.

    1. Amo o nome “O ABC DA VIDA”.
      Sua escrita está virando minha cartilha.
      Ao ler os seus textos sinto, penso e desejo assim: “queria tanto que fosse eu que tivesse ecrito isso, exatamente isso!” Então, sem cerimônia, me aproprio do texto e por alguns segundos me torno autora dele. Me sinto plena, exorcisada. E tenho certeza que ele só poderia ter sido escrito por mim. Por ser facil de entender, acessível, próximo de mim. Por não ser banal nem raso. Pela genialidade das associações, quase óbvias, quase inacessíveis. Pelo suposto saber, que me coloca de volta no lugar de simples leitora. Leitora mil vezes desejante de poder ter escrito aquilo que leio.

    2. Liv comentou o post A literatura é a prova de que a vida não basta dizendo que gostaria de ter escrito o que eu escrevi e que ela se apropria do texto e se torna a autora dele. Lendo Liv eu entendi que o leitor se torna o autor do texto de que ele gosta e com isso ele se transfigura. A literatura é poderosa porque permite a transfiguração. Obrigada Liv

  2. Certamente. Minha paixão é a oficina de escrita criativa que ministro desde 2004, e que se chama… TERAPIA DA PALAVRA! 😉

    Não poderia concordar mais. Especialmente nesses tempos tão sombrios.

    Continue escrevendo. De cá, gosto muito de te ler.

  3. Aprendi contigo a aprimorar a escuta e ao ler teus textos – arte na escrita – tive a experiência de seguir outros caminhos.
    Obrigada Betty

  4. Gostei muito. Você sabe encontrar o caminho do saber e dizer o que nos interessa. Bela crônica! Falar de Fernando Pessoa e chegar a Shakespeare é um longo caminho, que você conseguiu encurtar. Muito bom!

    1. Pessoa e Shakespeare são dois mestres da transfiguração, sem a qual nós não vivemos. Quem de nós não diria não sou nada, nunca serei ou I am not who I am ?

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