AS VERGONHAS

 Já na primeira carta sobre o Brasil, escrita por Pero Vaz Caminha, ele usava a palavra vergonhas para designar o sexo das mulheres. Dizia que as vergonhas das índias, “tão altas e sarradinhas” envergonhariam as mulheres de lá, as portuguesas. Vali-me no Sexophuro da mesma palavra, porque ela faz parte do tesouro da lingua.

 

Não havia então sido bom o ombro na mão, o rosto no ombro e a boca na dele, assustadiça? Desentendida, na fixação de o querer querendo-a, assim ficou até encontrar o próximo, que era outro pela ousadia das carícias, até descobrir nas vergonhas o corpo e o redescobrir na insaciedade, desejo ainda de se entregar e se espelhar nas juras, tardes longas na rua deserta e sombria, ao abrigo no carro de algum olhar que os denunciasse, o namoro livre contrariando as regras sem contudo de fato transgredi-las, o só contorno, a boca, os seios e as pernas, jamais o hímen.

 

A trilogia do amor/A paixão de Lia

133-Raphael Kirchner, sem título, ilustração para cartão postal, anos 1920