DESEJO AINDA

Houvera o namoro no cinema e ela não via motivo para ele ter desaparecido. Não havia então sido bom o ombro na mão, o rosto no ombro e a boca na dele, assustadiça? Desentendida, na fixação de o querer querendo-a, assim ficou até encontrar o próximo que era outro pela ousadia das carícias, até descobrir nas vergonhas o corpo e o redescobrir na insaciedade, desejo ainda de se entregar e se espelhar nas juras, tardes longas na rua deserta e sombria, ao abrigo no carro de algum olhar que os denunciasse, o namoro livre contrariando as regras sem contudo de fato transgredi-las, o só contorno, a boca, os seios e as pernas, jamais o hímen.

 

A trilogia do amor/O sexophuro

“Cena erótica”, arte persa (iraniana), período safávida, 1660, Museu de Belas Artes de Boston, EUA.