consulta com Betty Milan

A FIDELIDADE NÃO PODE SER FORÇADA

Talvez o meu problema seja o dos homens desde sempre. Mas, mesmo assim, não sei o que fazer. Tenho 32 anos, namoro uma mulher de 30 e vamos ficar noivos. Ela é linda, fina, inteligente, o tipo de mulher que chama a atenção de homens e mulheres por onde passa. Teve uma educação conservadora e acredita piamente no amor e no sexo monogâmicos. Acho que pode ser a mãe perfeita dos meus filhos e quero me casar com ela.

Nós nos damos superbem em todos os aspectos, menos no sexual. Ela me deseja e me procura sempre, eu é que não correspondo. Transamos duas vezes por semana, porque tenho um desejo incontrolável por outras mulheres e me relaciono com várias. Nunca consegui ser fiel, mesmo estando totalmente apaixonado. Adoro o corpo feminino, provar sabores novos, sentir outros cheiros.

Amo minha namorada, porém como conciliar o amor com o meu desejo? Falar disso para ela não é uma possibilidade. Já a sondei nesse sentido e percebi que não dá. Nesse contexto, o casamento é uma opção? Racionalidade ou instinto?

 

Certos homens podem ser vítimas do desejo incontrolável de transar. Desejo bom é aquele que a gente controla. Ou seja, que nós temos a liberdade de assumir ou não. O uso do termo vítimanão é casual. Vali-me dele porque os homens a que me refiro cumprem transando um mandato do superego: “Goze”. Se deixam escravizar por ele, imaginando que são senhores da própria conduta. Se a educação sentimental existisse, isso poderia mudar. Mas nós insistimos na ideia de que o importante é a educação sexual. A propósito, Nelson Rodrigues, que não tinha papas na língua, escreveu: “A educação sexual só devia ser dada por veterinário”.

Seja como for, a fidelidade não pode ser obrigatória, tem que ser facultativa. Ninguém deve se forçar a ser fiel. Inclusive porque, neste caso, já não está sendo. O problema é você se tornar noivo de uma mulher com quem não se entende sexualmente, com o argumento de que ela será a mãe perfeita dos seus filhos. Ainda que você fosse o futuro rei da Inglaterra, isso não se justificaria.

A sua posição é a do príncipe Charles, que deu no que deu. Ele, sabidamente, escolheu Diana com o auxílio de Camila, que então era sua amante. Camila olhou as fotos de Diana e aconselhou o amante a se casar. “— Esta serve, querido. Bem educada, jovem e bonita. Pode ser uma boa genitora e, portanto, esposa do futuro rei da Inglaterra.” A princesa sofreu até encontrar um verdadeiro amor e morreu em Paris no acidente trágico da Pont de l’Alma.

Por ter seguido as convenções da monarquia, o príncipe Charles ajudou a cavar a sepultura de Lady Di. Por sorte, ela se impôs como a verdadeira rainha dos ingleses, a que se opôs ao racionalismo estreito dos falsos monarcas, elegendo as causas justas. Entre elas, a do coração.

 

Publicado em Quem ama escuta