consulta com Betty Milan

O amor é sempre moderno

Por incrível que pareça, ainda não conhecia sua coluna e logo de cara adorei. Li as respostas e me animei a enviar este e-mail, pedindo sua opinião sobre uma situação que me aflige muito.

Tenho 42 anos, mas não parece, pois sou mignone tenho um jeito de falar e de ser meio infantil. Minhas amigas já estão quase todas casadas. Uma única amiga e eu somos solteiras. Com 30 anos, passei num concurso público, me apaixonei pelo trabalho e me esqueci da vida.

Mas, há dois anos e meio, conheci pela internet um rapaz por quem estou perdidamente apaixonada. O problema é que ele tem 23 anos e pensa que tenho 33, porque menti sobre a idade. Já adiei mil vezes o encontro, de medo de ele não sentir por mim o que eu sinto por ele. Não quero sofrer. Tenho idade para ser mãe dele e, quando me lembro disso, fico desesperada. Acha que devo tentar viver essa paixão ou cair na real? Me ajude, me dê uma luz.

 

Acho que você deve cair na real vivendo a paixão. Não pense que estou brincando. De que adianta evitar uma paixão pela qual está tomada? Melhor vivê-la. Se o sujeito não vive, sofre. Se vive, pode sofrer, mas também pode se dar bem e ficar feliz.

Talvez não seja o caso de se casar com um rapaz de 23 anos, porém o que te impede de encontrá-lo e viver o que for possível hoje? Queira ou não, ele é o homem da sua vida, ele que te faz sonhar, pisar nas nuvens — e o que você mais quer é isso.

A questão da idade não é preocupante. Que diferença faz para um homem de 23 anos amar uma mulher de 33 ou de 42? Nenhuma. Quem se importa com a diferença de idade é você, que quer ser como as suas amigas e se casar. Como se o casamento acontecesse quando e porque a gente quer. E como se algum de nós fosse igual a algum outro.

Só o que é comum a todos é a paixão do amor, que nos torna menos mortais e pode justificar a existência. O amor é sempre moderno, nós é que não somos. Escrevi isso pensando num verso de Claudio Willer: “É preciso que sejamos modernos como o amor”. Um verso que o poeta explica dizendo que esta modernidade tanto significa ser capaz de mudar quanto deixar o maravilhoso acontecer.

Você está às voltas com o maravilhoso e tem medo de se desencantar. Vai continuar vivendo o amor só no imaginário? Vai continuar se privando do rosto do amado, do olhar e da voz? Das mãos e de tudo o que o sexo propicia? A luz que emana do encontro dos corpos é única. Não é preciso ser poeta para saber disso. Pena seria você não ousar o prazer da carícia. O virtual tem limites. A garantia que ele dá não compensa a privação que ele impõe. Que tal marcar logo uma data e correr o risco?

 

Publicado em Quem ama escuta