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DON JUAN

Gostaria de entender o homem que joga charme, conquista e depois recua. Será para se auto-afirmar ou por medo de entrar no próprio jogo?

Certos homens se arrumam, se perfumam, dando a entender que estão interessados. Quando você faz o mesmo e mostra interesse, eles simplesmente somem. O que acontece?

Que homem é esse que seduz e desaparece?, me pergunta você. Trata-se de um homem cuja única meta é seduzir e cujo modelo é Don Juan, personagem mítico sedutor libertino que surge pela primeira vez na literatura no século XVII, quando Tirso de Molina, autor de mais de trezentas peças, publica El burlador de Sevilla(45). Da primeira à ultima cena, o personagem se ocupa das suas conquistas, passando, sem mais, de uma duquesa para a filha de um pescador, a filha de um comendador e uma camponesa.

Tirso de Molina inspirou vários outros escritores, inclusive Molière(46). Na peça do dramaturgo francês, datada de 1665, Don Juan é um monstro de cinismo e de orgulho. Faz pouco das lágrimas de Elvira, por ele abandonada, e da credulidade de Charlotte e Mathurine, duas camponesas humildes com as quais promete se casar. Só o que lhe interessa é conquistar e seguir em frente.

Don Juan passa de uma para outra mulher e não se fixa em nenhuma. Para ele, o amor é uma esparrela a ser evitada. Procura suscitar a paixão, porém, não se apaixona, pois só gosta de si mesmo e tanto mais quanto mais mulheres conquista. A cada vez, ele conta“menos uma”, ou seja, uma a menos para seduzir. Trata-se de uma contabilidade evidentemente narcísica.

O fato é que esse personagem, cujo descaso pelas mulheres é claro, atravessou os séculos e continua a ser um arquétipo da virilidade. Por isso você topa com ele, mas só se envolve e se decepciona, pois deseja confiar nos homens como pode confiar no seu pai. O desejo de encontrar um substituto do pai explica a credulidade das mulheres diante de Don Juan, que a explora para se realizar. Se ele apareceu mais de uma vez na sua vida, vale a pena tentar descobrir o porquê. Do contrário, você corre o risco de ficar sozinha.

 

 SEM A CREDULIDADE  DAS MULHERES DON JUAN NÃO EXISTIRIA

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