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Paixão via internet

Olá… Tenho 17 anos e uma dúvida cruel. Desde que eu conheci um rapaz de 21 anos pela internet. Nós conversamos a semana inteira e marcamos um encontro. Moramos perto um do outro, porém, não pude comparecer.

Sinto que gosto dele e depois me ocorre que isso só pode ser loucura. Ele liga para mim e diz que me adora. Não consigo mais viver sem vê-lo. Será que eu me apaixonei pela internet? A paixão pela internet de fato existe? Pode dar certo?

Você diz que é cruel a dúvida com a qual está às voltas. E é mesmo. Porque você quer ir, mas não vai. Não comparece ao encontro, mas fica contrariada. Gosta, mas de medo de ficar louca renega o que sente. Você está paralisada e o que te paralisa te amedronta, te faz querer e não querer a paixão.

Ela nasce porque é com as palavras que a gente se apaixona. As palavras são mágicas, como varas de condão. Um escritor francês do século XVII, La Rochefoucauld, dizia que para amar é preciso ouvir falar de amor. E há na literatura vários exemplos disso. Um deles está em Cyrano de Bergerac, peça de teatro que virou filme com Gérard Dépardieu. Quando o personagem Christian diz para sua amada Eu te amo, ela pede e até exige que ele diga mais. “Floreia, floreia meu bem”. Quem ama quer a jura e o galanteio, quer a flor. O computador garante isso.

As palavrinhas de amor se materializam na tela, onde, através da escrita, o amante e o amado podem surgir inventando mil formas de se expressar. Pela surpresa que o computador propicia, há quem deseje a fidelidade virtual e se satisfaça com ela, evitando até a realidade. O sujeito, nesse caso, ama tanto o amor que prefere continuar sozinho a correr o risco de encontrar o outro e se decepcionar. Com a decepção, ele ficaria sem o sentimento amoroso; então, em conseqüência do medo, foge da realidade como o diabo da cruz.

O seu caso é outro. Portanto, não deixe de ir ao próximo encontro. Se vai ou não dar certo, eu já não sei. Também não sei o que dar certo significa para você. Aventure-se para descobrir. Ou melhor, atravesse a rua.

AS PALAVRAS SÃO COMO VARAS DE CONDÃO


Publicado em Fale com ela