consulta com Betty Milan

SÓ QUEM SE AMA PODE SER GENEROSO

Sempre namorei. Desde os 14 anos… Tive uns seis namorados duradouros. Até que fiquei grávida, me casei, me separei e namorei outro mais quatro anos. Nunca fiquei nem dois meses sem namorar. Gosto dos homens, me interesso verdadeiramente.

Tenho 36 e há um ano eu me envolvi com um rapaz 11 anos mais novo, filho de mãe completamente dominadora. Uma psicanalista de sucesso, de quem ele se orgulha, embora se sinta sufocado por ela. Nem a mãe e nem o pai aprovam o nosso namoro. Acham que ele tem muito para viver antes de se amarrar com uma mulher mais velha, separada e mãe de um filho.

Sempre fui segura nos meus relacionamentos, mas de repente me sinto inferior, tenho medo de perdê-lo. Sobretudo porque foi trabalhar noutra cidade. Só fico bem quando estou ao seu lado. Longe, minha vida parece estagnada e sem graça. O meu trabalho também. Pela primeira vez, sinto vontade de estar com alguém para sempre. Quero um parceiro para viver em paz a minha maturidade. Sinto o peso do tempo que passa e me sinto sozinha. Fico horas no computador. Como reagir?

 

Bom exaltar Eros, gostar dos homens, se interessar “verdadeiramente”. Curiosa, no entanto, a maneira como você se refere a eles. “Tive uns seis namorados.” Se os seis fossem significativos, você não usaria o artigo uns. Esse uso indica que significativa era a quantidade de namorados. A sua posição, antes do casamento, faz pensar na de Don Juan, que se interessa pelas mulheres, mas por nenhuma em particular. Porque para ele só quantas ele seduz importa.

Você começou a vida amorosa com a ousadia de uma grande devoradora e agora se estranha, porque está às voltas com o medo de perder o parceiro. O seu medo se justifica. Menos pela oposição dos pais do namorado e mais porque a liberdade dele não te convém. Você precisa estar junto o tempo todo e, portanto, pode se tornar tão sufocante quanto a mãe.

Se a liberdade dele te conviesse, a sua vida não ficaria sem graça quando ele vai trabalhar, ou seja, se realizar noutra cidade. Para escapar à monotonia do seu sentimento de insegurança atual, você precisa encontrar uma forma de ter prazer, no cotidiano, sem ele. Isso é perfeitamente possível e altamente recomendável.

Quanto ao parceiro da maturidade, a gente encontra porque já amadureceu. Já sabe que acorrentado ninguém ama e não é possível esperar tudo da relação com o amado. O amor do amado é o principal, claro, mas requer o amor do amante por si mesmo. Só quem se ama pode realmente amar o outro. Porque tem a generosidade que propicia o acordo e, assim, torna as coisas possíveis. O futuro do namoro atual depende muito de você, da maneira como vai encaminhar a sua vida.

 

Publicado em Quem ama escuta