MACHO QUE É MACHO

Desejar  significa estar em falta. O desejo é incompatível com o machismo, que não concebe a falha ou a falta.  Por isso, tendo em vista a expressão dar o braço a torcer, eu escrevi, no texto abaixo, do meu primeiro romance, que o verdadeiro macho nunca dá o braço ao desejo.

 

Deixou-se levar pela lembrança. Da primeira vez em que ela o viu, sentiu-se impelida a se entregar, coisa que ficou adiada, tardou a vir. Até que ela tomasse a iniciativa de propor o que queria. 

Como só podia ser, foi numa noite de lua cheia, num casarão abandonado. Ele numa quietude séria, o dito engolido, macho que é macho não dando nunca o braço ao desejo; ela seduzida por aquele homem de pedra, sussurrando como convinha, no disfarce do seu querer: o de lhe fazer uma proposta indecorosa, a de si para ele, encontro na esquina, à meia-noite.

 

A trilogia do amor/O sexophuro

Jô Oliveira, ilustração para o cordel “O romance do pavão misterioso”.

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