O que a gente já perdeu, o destino não tira

Não há como não perder seres queridos. Nós estamos destinados a este sofrimento. Dizer que o destino não nos tira o que já perdemos é a nossa pequena vingança. Dizemos isso porque temos a possibilidade de rememorar a existência de quem já não está. A rememoração é a nossa vingança e o nosso grande consolo, como descobre a heroína do meu romance, Consolação.

 

Tendo se tornado viúva, ela erra pelas ruas da cidade e do cemitério até se dar conta de que, por continuar no seu coração, o marido não morreu e que perder não significa não ter. Conclui isso quando se surpreende ouvindo o morto dizer que a desaparição do seu corpo não é a desaparição dele. Que a morte não anula o que eles viveram e, ao ignorar a efemeridade da vida, nós perdemos a preciosidade da existência.

nadinha

Contei para um amigo que, na floresta, eu fico particularmente feliz, por ouvir a infinidade de sons e os pios ocasionais dos pássaros, ver as borboletas que passam, lembrando a efemeridade da vida. O amigo me disse que é bom constatar o quão indispensável a natureza é, pois nós vivemos esquecidos de que somos parte dela.

Krais , “Árvore sob o vento”, córsega, foto