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O QUE IMPORTA É A QUALIDADE DO ENCONTRO

Tenho 40 anos. Fui casado durante 15 e estou separado há três. Me casei cedo para fugir do meu pai. Ele me prendia em casa e o nosso relacionamento não dava certo. Sou pai de dois filhos, uma menina de 16 e um menino de 9.

Sinto culpa por ter me separado, por ter “largado” os meus filhos. Temo que eles venham a ter algum problema no futuro por causa da minha ausência. Só que pela minha ex eu não sinto mais nada. O gênio dela é ruim. Não se dava bem com os meus familiares e exigia muito de mim. A minha válvula de escape, durante o casamento, eram as outras. Tive duas amantes e frequentei prostitutas. Mas, no fundo, não era o que eu queria.

Atualmente, moro com uma pessoa que me trata muito bem, mais do que mereço até. Porém, não é isso que eu quero. Se, por um lado, sinto falta dela, por outro, quero morar sozinho, sem compromisso com ninguém. O que fazer?

 

Você era solteiro, se casou para fugir do pai. Era casado, tinha outras mulheres para fugir da esposa. Vive com a amante, quer viver sozinho. O que me chama a atenção, nas três situações, é a repetição. Há uma razão inconsciente para agir sempre da mesma maneira. Você precisa descobrir essa razão. Na verdade, a pessoa só faz análise para deixar de se repetir. Vai para o divã e rememora para se livrar da repetição inconsciente e reinventar a existência.

Seja como for, o que te leva a passar de um lugar para outro é a impossibilidade de dizer não. Ou seja, de se deslocar com a palavra. No jargão psicanalítico, isso é “dificuldade de simbolização”.

Você talvez não tenha que morar sozinho se for capaz de dizer não à companheira, colocar limites. Para tanto, é preciso entender que dizer nãosignifica simplesmente que é impossível dizer sim. Nesse caso, dá para viver com outra pessoa e se isolar quando necessário.

Agora, nada impede que você mantenha o relacionamento e tenha uma residência separada. O encontro marcado é uma ótima solução. Ter duas residências é, aliás, uma tendência da modernidade, que, bem ou mal, significa maior liberdade.

Digo aqui, no fim da resposta, o que poderia ter dito no começo: separar-se não significa “largar” os filhos. Não é preciso morar no mesmo espaço físico para estar com eles. O que importa não é o número de vezes que você os vê, e sim a qualidade do encontro. Não é o quanto, mas o como. Pare de se culpabilizar e use a sua energia para imaginar formas novas de se relacionar com seus filhos.

 

Publicado em Quem ama escuta