consulta com Betty Milan

olhos vendados

Tenho 40 anos e moro há sete com um homem que eu amo muito. Nossa convivência é boa e o sexo também é bom, tanto que eu não me sinto atraída por outros homens. Mas, há algum tempo, ele me disse que, apesar de ser tudo muito bom, ele precisava variar, ter sexo com outras mulheres. Inicialmente, procurava prostitutas, porém, se cansou delas e agora arrumou uma amante.

Tento entender, mas não consigo. Tenho raiva e me sinto frustrada. Odeio pensar na intimidade dele com outra, e ele se sente culpado por me magoar. Isso está nos afetando, porque eu fiquei menos inspirada para transar. Será que tem jeito? Ou será que a relação acabou e eu estou me enganando? Não queria que nós perdêssemos o que é tão bom.

 

O que me chamou a atenção no seu e-mail foi a repetição três vezes da palavra bom. O sexo é bom (embora você não esteja mais tão inspirada), tudo é muito bom (embora ele precise transar com outras e você não suporte isso), o que vocês têm é bom (embora você se sinta frustrada e ele, culpado).

Se acabou, eu não sei dizer. Sei que você está se enganando em vez de se colocar questões simples como: Por que ele precisa variar? Por que ele passou das prostitutas para a amante? Por que fico frustrada? Por que suporto a frustração? Por que ele não pode deixar de me magoar?

Você não pode concluir nada antes de se concentrar nessas cinco questões, às quais acrescento mais uma, que pretendo responder: Por que você imagina que eu tenha a resposta?

Por me tomar por uma pessoa que, no passado, respondia às suas perguntas? Ao me atribuir o saber dela, você faz de mim o que Lacan chamava de sujeito suposto saber, sujeito que o analista sempre encarna. Inconscientemente, você está à procura de um analista e nada agora seria melhor do que o encontrar. Deixe a relação amorosa como está para saber como fica. Até porque é a única possibilidade no momento.

Sua história me faz pensar num adágio que deve existir em todas as línguas. No português, ele reza assim: É preciso dar tempo ao tempo. No francês: O açúcar precisa de tempo para derreter. No chinês, o adágio é menos direto, porém mais imagético: Quando as águas se juntam, o rio se forma.

Que tal fazer uma análise e esperar que as águas se juntem?

 

O TEMPO É SOBERANO

 

Publicado em Fale com ela