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CIÚME

Tenho 24 anos e há dois eu namoro uma garota de 18. Nós nos damos superbem, mas temos um problema. Antes de nos encontrarmos, eu tive outros relacionamentos. Já ela, não. Por causa disso, freqüentemente nos desentendemos. Eu me arrependo de não ter me guardado para ela, que sofre, pois não consegue esquecer o meu passado.

Nós nos amamos e queremos ficar juntas. Pedimos a sua ajuda para superar o problema que nos aflige.

 

“Você transou e eu não”, diz sua namorada. E você vive arrependida de não ter “se guardado para ela”. Como se fosse possível, nos dias de hoje, décadas depois da revolução sexual, suspender o desejo até o amor acontecer. Você é uma mulher do seu tempo e não tem culpa alguma no cartório. O seu passado não faz de você uma devassa, e sim uma pessoa mais experiente e sensível. Mais capaz de dizer o que deve ser dito ou da carícia oportuna. Em princípio, a sua companheira só tem a ganhar com seu passado.

Não é por acaso que alguns dos grandes textos sobre o amor foram escritos pelos autores já no final de sua vida, com mais de 80 anos. A exemplo disso, A dupla chama, ensaio de Octavio Paz, e Memórias de minhas putas tristes, o último romance de Gabriel García Márquez.

Seja como for, a sua namorada morre de ciúme porque o amado quer ser único, e o amor não leva em conta o tempo cronológico. O tempo do amor é o presente – um presente absoluto – e, para ela, o fato de você ter tido relacionamentos significa que você pode ter outros e portanto não a ama verdadeiramente. Trata-se de uma fantasia, cuja origem precisa ser descoberta.

Isso não te impede de dizer e reafirmar que nenhum encontro anterior equivale ao atual. Que acima de tudo você deseja o acordo, pois é este que o amor verdadeiro privilegia. 

 

O AMOR PRIVILEGIA O ENCONTRO

 

Publicado em Fale com ela