consulta com Betty Milan

HUMILHADA E OFENDIDA

Estou desde 1988 numa mesma empresa. Trabalho demais, porque não consigo parar, e sou muito criticada por isso. Acham que estou querendo o lugar de alguém. Sempre que há uma promoção, o diretor, que eu amo, me passa para trás. Tem o defeito do nepotismo. Seus protegidos, que são três, fazem o que querem, dominam a empresa. A última chance que eu tinha de conseguir uma promoção, ele tirou.

Vivo em função do trabalho e deste homem, que não me ama, me ignora, me despreza. Quando fala comigo, põe a mão no nariz, como se eu estivesse fedendo. Faz isso para me humilhar. E ele consegue. Se eu sair da empresa, será uma derrota, pois há anos eu tento ser respeitada pelo que faço. Estou esgotada, desmotivada, humilhada. Terapia eu já fiz e não adiantou. O que fazer?

Você trabalha numa empresa onde o diretor te passa para trás sempre que pode e os colegas temem que você passe a perna neles. Um ambiente extenuante, e, nele, a última chance que você tinha se foi. Como se não bastasse, você diz amar o diretor que, além de te desprezar, te humilha com um gesto inconcebível numa empresa: tapar o nariz ao falar com um dos funcionários. Nem mesmo no cinema!

Mas você não sai. Vinga-se, impondo a sua presença indesejada. “Não me querem? Serão obrigados a me agüentar.” Quem sai perdendo é você mesma, que está às voltas com a paixão do ódio. O que pode te acontecer de melhor é se livrar dessa paixão. Para tanto, você precisa renunciar ao gozo que te levou a ser maltratada, o gozo masoquista que, agora, depois que você perdeu a esperança da promoção, se transformou em gozo sádico – que também é o do diretor.

O masoquismo freqüentemente se transforma em sadismo. Um e outro são as duas faces da mesma moeda. A correlação entre eles é tão íntima que são estudados simultaneamente no vasto capítulo do sadomasoquismo, introduzido na psiquiatria por um médico alemão do século XIX, Krafft-Ebing(35).

A sua questão é menos ficar ou sair da empresa do que ficar ou sair da posição subjetiva em que você está. Isso implica um trabalho bem diferente do que você faz “sem poder parar”. Ou seja, compulsivamente. Trata-se de um trabalho que te permita responder às questões: De onde venho? Quem sou? Para onde vou? Só assim você consegue mudar de vida.

Publicado em Fale com ela

Comentários sobre "HUMILHADA E OFENDIDA"
  1. Vivi uma situação muito parecida com esta. E fez muito sentido pra mim o que você escreveu. Estas perguntas exigem muito da gente, mas são a chave para encontrar o caminho. No meu caso, fiquei na empresa até que ela decidisse o meu destino, como vingança. E de fato, tenho dúvidas se foi a melhor solução. Hoje estou em busca de mim mesma, e daquilo que realmente me pertence. Obrigada por compartilhar sua história e Betty, obrigada pelo texto.

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